Não sei se você se lembra, mas eu sim. Me lembro de ver seus
olhos cor de caramelo pela primeira vez e pensar que nunca tinha visto olhos
mais vivos e cheios de amor na minha vida. Como o tempo passou rápido.
Tenho essa impressão pois mesmo agora, três anos depois, todas as vezes que te
encontro, essa vida em teu olhar me tira o fôlego.
Me lembro da sua namorada, delicada e gentil. Me lembro como
um quebrou o coração do outro meses depois. Analisei vocês dois como um só e
percebi que nada em vocês se encaixava, mesmo com as paixões fulminantes por
coisas simples que partilhavam. Você chorou, ela se afastou de todos nós, e eu
sentia uma pontada do lado esquerdo do meu peito a cada lágrima que você
derramava em meu ombro e em cada passeio com a galera que você não aparecia.
Olha só, não pense que eu esqueci da parte mais estranha,
porque eu também me lembro dela. Era sábado à noite e já passava do toque de
recolher da minha mãe quando em meio a uma música eletrônica e a luzes
coloridas você uniu nossos lábios. Gostaria de estar tão bêbada quanto você,
pois assim eu não seria obrigada a nos separar em dois novamente. Nossos amigos
não conseguiram conter o espanto, da mesma forma com que você não conseguiu
conter o ímpeto de fugir daquela festa. A cada telefonema, mensagem ou visita
frustrada sua eu me lembrava cada vez mais do seu calor.
Quando enfim me curei e voltamos a nos falar (dessa parte eu
sei que se lembra) juramos pelas estrelas que foi algo impensado da sua parte me
beijar e algo muito sensato da minha parar com o beijo. Repetimos tantas vezes
que acabou se tornando verdade, até para mim.
No amigo secreto daquele Natal você acabou pegando o meu
nome e me deu aquele álbum que eu tanto queria. Me lembro de pensar que se você
não fosse você, você seria perfeito para mim.
Dois meses depois fui para fora do país estudar cinema, e
você ficou. Por incrível que pareça, não me lembro com clareza em qual momento
nos perdemos. Não especificamente eu e você, mas eu e todos que conhecíamos
aqui. Mas o fato é que aconteceu, e agora na minha volta para as férias, você
me convidou para o seu casamento.
Lembra dos meus primeiros meses em Nova York quando eu não
saia com ninguém e ninguém nem olhava para mim? Então, isso acabou mudando.
Sai, dancei e aproveitei muito. Três namoros e, pasme, um noivado. E todos
esses relacionamentos acabaram comigo buscando neles algo que só existe em
você.
Você sempre disse que eu era muito sonhadora, mas você
também era. Sei que é estúpido, mas eu meio que esperava que você um dia
acordasse e percebesse que a garota certa para você sou eu. Louco me lembrar
que eu esqueci que você também estaria tocando a vida por aqui.
Sei que você odeia longos textos mas fica aí, porque esse
vai ter um final que você vai querer saber.
Por mais que eu queira, não vou conseguir ir ao seu
casamento. Não porque tive que voltar para o trabalho antes do previsto, ou
porque fiquei doente. Simplesmente porque não vou conseguir. Te ver dizendo “sim”
será a prova de que tudo o que deixei para trás ficou no passado. Nenhuma das
meninas me chamou para ser suas madrinhas ou para conhecer seus novos romances.
Nenhum de vocês, meninos, me ligaram para contar as novidades. E você, meu
preferido, vai começar uma nova história e eu virarei uma daquelas que você
conta para as crianças quando elas já estão maduras o suficiente.
Peguei minha família e levei para a praia, onde ficaremos
até o fim de março, minha volta para casa. Quando você receber essa carta, já
estará a caminho do altar (pedi à Clarinha para te entregar antes que você
entre na Igreja).
Antes de terminar, gostaria de te lembrar que eu estou bem.
Que ficarei bem. Mas provavelmente nunca mais iremos nos ver, até porque você
deve se lembrar do quão tímida eu sou. Então, por favor, não ligue ou mande um
e-mail. Você é, provavelmente, meu amor verdadeiro, mas darei um jeito de nunca
mais lembrar disso.
Garoto encantados dos olhos vivos, seja feliz. Também
tentarei ser por aqui.
Com amor.
Contato:
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