Eu não estou aqui para falar de números ou de razões
incoerentes, muito menos para detalhar os momentos de horror que milhares de
pessoas viveram. Estou aqui para falar de uma parcela de atingidos que os
jornais parecem estar esquecendo, quando na verdade todos que estavam na arena
ficaram para sempre marcados com o ódio espalhado naquela noite.
Em todos os concertos e eventos pelo mundo afora, pessoas
são contratas para suprir as necessidades da noite. Limpeza, organização,
segurança. Eles costumam vir de agencias especializadas ou aceitam o emprego
pela necessidade, e eles estão lá. Estão lá na entrada, durante as músicas e na
hora da saída. Sempre sem serem vistos até que alguém tenha alguma pergunta ou
precise se localizar.
São homens e mulheres. São pais, mães, filhos, irmãos, amigos, cônjuges. Quem poderia imaginar? Será que se alguém tivesse tido algum sonho,
algum pressentimento teria evitado ir trabalhar naquela noite?
Não esqueci da promessa de não falar dos detalhes, mas vamos
usar a empatia por um momento. Você está no banheiro limpando, organizando
todos da equipe da turnê, ou zelando pela segurança de uma multidão de
adolescentes. De repente, um estrondo. Gritos. Lágrimas. Será que esses trabalhadores
sem identidade, sem ênfase no quão importante é o trabalho deles conseguiram
encontrar a saída tão facilmente quanto os músicos, assistentes e até a Ariana?
Quem se preocupou em protege-los? Quem, ao menos, se lembrou deles?
Me pergunto se quando tudo aconteceu, alguém notou o que
realmente estava acontecendo. Não foi um acidente, não foi obra do acaso. Foi
planejado, estudado e calculado. Era para machucar, matar e assustar. Isso
mesmo, na arte. A mesma arte que cura, que acalma.
Me pergunto, também, se eles tentaram ajudar as crianças.
Talvez o pior lugar para se estar em uma situação como essa, é o lugar de
segurança. Como será que eles estão se sentindo? Culpados, muito provavelmente.
Quando tudo acabou, quando mais informações apareceram,
lágrimas invadiram os olhos de todos os países, pelas famílias, pelas crianças,
pela cantora. Conseguir uma entrevista com os envolvidos deve estar sendo
tarefa difícil. Mas ninguém pensou em falar com o zelador, com o montador de
palco, não é?!
Tudo isso é só mais uma prova do quão burgues o pensamento
das pessoas é. Todos merecem nossa atenção e nossas preces. Todos. A pessoa que
limpava, que zelava, os assistentes, os dançarinos, os músicos e a platéia.
Todos sofreram, todos foram marcados pela intolerância.
Todos gostariam de apagar aquela noite da
história, de poder voltar no tempo e evitar que tudo isso acontecesse. Isso não vai acontecer. A partir daquele dia, essas pessoas tem medo de sair de
casa, de trabalhar, de viver. Aos poucos, saberão que só existe uma opção para
elas, assim como para todos nós: conviver com a dor e o medo, e lutar por dias
melhores.
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